Por que é que as coisas são como são?
A Claudia me ligou essa madrugada, 03:34 pra ser mais específica, chorando, por causa de uma coisa que ela tinha infligido a si mesma e que não cabe dizer aqui. Ficamos conversando uma meia hora, e ela chorando, e eu sem poder fazer nada. Eu queria poder ajudar, nem que fosse emprestando o ombro – por mais que faça isso por telefone, o contato físico é importante, deus sabe como isso é necessário pra ela. Eu queria poder entender o que a faz agir assim. Eu queria conseguir não me apavorar e conseguir dormir bem depois de uma dessas. Eu queria conseguir ter tranquilidade suficiente pra acordar e meu primeiro pensamento do dia não ser “Deus, a Claudia tá bem? A crise passou?” e não ter respostas. Eu queria conseguir sofrer apenas pelo que EU sinto, e não pelo que os outros sentem. Eu queria conseguir entender que cada um tem suas próprias dores e não viver as dos outros por eles. Ou queria conseguir pegar um pouco dessa dor pra mim, e sofrer um pouco por ela, pra aliviar, pra ela não precisar fazer o que faz e ver se a dor diminui. Eu queria não me sentir tão responsável por ela, a ponto de estar babando de sono e ao ouvir a voz dela chorando acordar completamente em dois segundos. Eu queria não me preocupar com ela como se ela fosse minha filha, mais até do que me preocupo com a depressão da minha mãe ou o alcoolismo da minha tia ou a insubordinação do Bruno. Eu queria conseguir não ficar neurada pensando no que mais posso dizer pro Gabriel que o ajude a solucionar os problemas dele com a mãe dele. Eu queria não começar a me sentir responsável por ele como me sinto pela Clau, claro que em menor grau. Porque eu já tou me sentindo, já tou querendo cuidar, querendo evitar que ele sofra, querendo dar conselho pra ajudá-lo a tirar as pedras do caminho dele que nem tento tirar da Clau. Eu queria não ficar a ponto de chorar cada vez que leio uma carta da Camila, querendo imaginar uma maneira de tirar aquele filho da puta da cabeça dela, de fazê-la se valorizar como pessoa. Porque, como eu e a Clau falamos, NÓS SABEMOS o que é você se anular por causa de alguém. Eu queria não precisar desesperadamente estar cuidando de alguém. Talvez porque nunca tenha tido quem ficasse assim, cuidando de mim, e eu tenha sentido uma puta falta disso, e fui ter quando conheci a Clau, e talvez queira retribuir na mesma moeda. Ou talvez porque eu saiba a falta que faz alguém se preocupando com você. Ou talvez porque, por não ter tido isso por tanto tempo, seja difícil pra mim aceitar agora (né Eduardo?) e eu queira que alguém aceite de mim o que eu às vezes não consigo aceitar dos outros.
Eu queria isso tudo. Ou acho que não queria. Porque já tentei mudar isso. E não consegui. E talvez se eu mudasse, se eu tivesse todos os meus “queria” realizados, não fosse mais eu mesma.
Por que é que as coisas são como são?
P.S.: eu ia escrever um post “confessionário” contando das novidades – da minha mãe, porque eu não tenho nenhuma mais digna de nota – mas simplesmente saiu isso, e é isso que vai.
Postado Por:
Laurelin Corsets às 6/29/2004 12:32:00 PM